Quando iniciaram o projeto da Casa Natura Santo André, seus criadores vinham de uma experiência anterior de cinco projetos de Casas Natura em São Paulo (Rua Vergueiro, Av. Santo Amaro, Itaquera, Osasco e Guarulhos). Tratam-se de locais dedicados ao contato com a força de venda da maior empresa brasileira de cosméticos, que tem cerca de um milhão de consultoras de venda direta no Brasil.
Com o crescimento de 20% no número de consultoras em relação ao ano anterior, a intenção da empresa foi criar um local de relacionamento físico com essas pessoas. São locais onde acontecem encontros de lançamento mensal, com uma agenda intensa de treinamentos e palestras para as consultoras, alem de estar sempre aberto para visitação do público em geral. Por não se tratarem nem de um showroom e nem de uma loja (produtos não são comercializados nesses locais), as construções passaram a ser denominadas Casas Natura; a idéia é que estes espaços fossem locais onde as consultoras se sentissem abrigadas, acolhidas como em uma casa. As casas, assim, são uma iniciativa no sentido de informar e incentivar as consultoras, que adicionalmente terão a oportunidade de testar e experimentar os produtos que normalmente vendem apenas por catálogo. Além disso, a Natura é uma marca que tem como fundamento estimular a relação entre as pessoas. Desta forma, mais do que um auditório e um show-room, a idéia era criar um espaço agradável onde as pessoas queiram frequentar, encontrar e trocar experiências.
Com um porte bem maior que a nova Casa, as primeiras eram reformas e continham um programa similar: auditórios para treinamento da força de venda; área de exposição e experimentação dos produtos; área de convívio/café e área administrativa.
Porém, por se tratar de reforma, elas consumiram um esforço muito grande das empresas envolvidas – tanto da Epigram e da FGMF, parceiras no projeto, quanto da própria Natura. Afinal, reformar cinco imóveis diferentes provou ser uma tarefa difícil, cara e pouco eficiente.
Por causa do interesse da Natura em implantar Casas em todo o Brasil, os Arquitetos propuseram para a equipe de inovação comercial da empresa uma estratégia diferente: fazê-las menores e pré-fabricadas, de maneira a otimizar o projeto, manter maior controle sobre os custos de construção e agilizar sua implantação. Além disso, seria uma forma mais adequada para atingir, através de um projeto certificado, as premissas de responsabilidade ambiental requisitadas pelo cliente. Para ilustrar essa possibilidade, eles apresentaram à Natura o projeto desenvolvido pela FGMF para a final do concurso internacional Living Steel de 2008, onde propusemos uma construção metálica de alto desempenho ambiental e com flexibilidade para se adequar a estações diversas do ano.
Espaços generosos, apesar do tamanho menor, iluminação natural, contato com o jardim, construção seca e eficiente, certificação ambiental, possibilidade de replicação e customização conforme a situação local, objeto delineado pelos seus vazios e pela relação entre o dentro e o fora, todas essas premissas deram origem ao projeto de Santo André, que foi concebido e construído como um piloto para futuras replicações. Como um objeto industrializado, após a construção do protótipo será feito um balanço de todo o processo de projeto, construção e operação da Casa para ajustar desde o programa até o detalhamento típico antes de construir novas unidades.
Foi pesquisado e escolhido um terreno típico das áreas centrais das cidades brasileiras determinadas pela Natura: um lote de 250m², com 10m de frente, que se tornou nosso módulo mínimo de terreno. Sobre ele, a construção é marcada por um esqueleto metálico que se dispõe longitudinalmente, reservando à porção frontal um grande recuo aberto para a cidade na forma de jardim.
Esse esqueleto pode ser implantado de outras formas em lotes diferentes: pode ser espelhado conforme a conveniência de visibilidade ou acesso, pode ter a frente invertida no caso de lote mais largo ou de esquina, mas, fundamentalmente, a função desse esqueleto é articular os demais elementos do conjunto e criar um objeto heterogêno que define áreas construídas de diferentes qualidades, abertas e fechadas.
Encaixada no esqueleto, uma grande caixa acomoda o principal programa: dois auditórios flexíveis, onde se dão os encontros das ‘consultoras’ e onde acontecem os freqüentes treinamentos. Mais fechada, possibilita o correto controle de iluminação necessário e configura uma grande caixa suspensa, com balanços que a destacam da estrutura. Ao fundo do lote, as funções naturalmente reservadas são contidas por uma outra caixa, mais vertical: banheiros, depósito, copa e administração fazem parte desse bloco.
Da rua, vê-se através do jardim, a construção recuada que ganha perspectiva. A estrutura anuncia-se com uma porção frontal diáfana que contorna a vegetação com vigas brancas e elementos de sombreamento. Logo em seguida, a massuda caixa do auditório extravasa os limites do esqueleto e se impõe como o elemento mais imponente do conjunto. Sob o peso do auditório, derrama-se um pavimento térreo fluido, que não encontra nos vidros da área de exposição um limite claro entre os espaços externos e internos.
O balanço lateral do auditório oferece uma passagem coberta para os visitantes que, finalmente, entram na área de exposição e experimentação dos produtos da marca. Aqui a construção parece desaparecer, deixando no alcance visual do visitante apenas os produtos e o jardim que os rodeia. É só depois de passar pelos produtos que se tem acesso à porta de vidro que nos leva para um átrio central.
Surpreendente, esse espaço é vazio, aberto, semi-coberto, indefinido. Ao mesmo tempo, é um elemento cheio de possibilidades, onde se dá toda a circulação horizontal e vertical da Casa. É também área de encontro e convívio em meio à vegetação, onde o café ocupa uma posição estratégica acoplado à estrutura da escada. Subindo esta escada, chega-se aos auditórios e, cruzando a passarela, atinge-se a administração.
É, na verdade, um objeto muito simples, onde a identificação do programa é facilitada pelo destaque de objetos legíveis acoplados à estrutura onipresente e contínua, que transcende os limites tradicionais da construção e da natureza que a envolve. Assim achamos que devia ser a cara da marca Natura: singela, precisa e em contato direto com a natureza.
Fonte: Livingsteel
Comentários
Postar um comentário