Gilmar Altamirano e a causa da água
Fundador da Universidade da Água – primeira ONG do Brasil a alertar para a falta de água no mundo –, o ambientalista Gilmar Altamirano enfrenta dificuldades em atuar no país, que possui água doce em abundância e carrega uma tradição de desrespeito aos rios.
Divulgação
Segundo dados da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, no século XX a população mundial cresceu cerca de 300%, enquanto o consumo de água aumentou, aproximadamente, 600%. Os números não deixam dúvidas: o mundo não sabe usar a água de forma consciente e ainda vamos pagar muito caro por isso. Segundo a ONU, se não mudarmos agora nossos hábitos de consumo de água, em 2025, quase três bilhões de pessoas sofrerão com a falta do recurso.
Foi para ajudar a conscientizar a população brasileira sobre a escassez de água no mundo que o ambientalista Gilmar Altamirano, pós-graduado em “Meio Ambiente e Sociedade” pela Fesp – Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, fundou, em São Paulo, a primeira organização brasileira, desvinculada do governo, a tratar sobre o assunto: a Universidade da Água.
A intenção da ONG é mostrar à população, por meio de ações de educação ambiental, como é possível preservar e recuperar a água. Mas, segundo Gilmar, existem dois grandes empecilhos nessa “missão”: a questão da grande disponibilidade de água doce no Brasil e, também, o fator cultural, já que o brasileiro não é ensinado a valorizar seus rios.
ÁGUA EM ABUNDÂNCIA
O Brasil possui 11,6% da água doce superficial do mundo, o que torna o trabalho de conscientização da Universidade da Água mais difícil. “É complicado explicar para pessoas que, hoje, possuem água em abundância, que o recurso acabará no mundo todo, se não mudarmos nossas atitudes. Parece um futuro muito distante”, explicou Gilmar.
Segundo o ambientalista, a cidade de Manaus, no Amazonas, é um exemplo disso. O município possui a maior bacia hidrográfica do país, o que estimula o uso da água em excesso. “Com o calor, as pessoas chegam a gastar 700 litros por dia, sendo que a média brasileira não passa de 200 litros”, disse Gilmar.
Além disso, por terem água em abundância, cerca de 25% da população de Manaus, inclusive a classe média alta, se recusa a pagar por serviços relacionados a água e se abastece de sistemas clandestinos – os populares “gatos”. Como conseqüência, várias residências da cidade já sofrem com a falta de água, ao lado da maior bacia hidrográfica do país.
PROBLEMA CULTURAL
A segunda dificuldade da Universidade da Água é mudar a relação do brasileiro com a água e, sobretudo, com os rios. “A maioria da população enxerga o recurso, apenas, como ‘algo que sai da torneira’ e, por não ter a noção de todo o ciclo da água, acaba poluindo, sem cerimônia, os rios que nos abastecem de água”, explicou Gilmar.
Para ele, essa falta de consciência é antiga e se manifestou na sociedade brasileira na época da escravidão. “O Rio Tamanduateí, em São Paulo, por exemplo, era conhecido como Rio Vermelho porque os senhores de engenho instruíam seus escravos a jogarem vísceras e dejetos nas águas do rio. Pode parecer absurdo hoje, mas a maioria da população ainda enxerga os rios dessa maneira: um lugar para se livrar dos entulhos. Você joga o lixo e, em pouco tempo, ele desaparece”, disse Gilmar.
Ainda segundo o ambientalista, o processo de assoreamento dos rios, cada vez mais frequente nas grandes cidades, só piora a situação, porque como não enxergam os rios, as pessoas se sentem ainda menos responsáveis por eles. “Diante disso, a única solução é educar as pessoas para que elas redescubram a água”, destaca.
E é justamente este o trabalho desenvolvido pela Universidade da Água, através de diversos projetos de educação ambiental. Entre eles estão:
– o “NESA Capivari”, que prevê a criação de um Núcleo de Educação Socioambiental no último rio limpo de São Paulo, o Capivari;
– o “Estação Educacional Flutuante”, que prevê ações de educação ambiental, em uma escuna na represa Billings, em São Paulo, para ensinar crianças do ensino fundamental e médio a preservar a água
– e o “Museu-escola da Água e Saneamento”, que pretende reformar antigas instalações que ficam na beira do Rio Negro para montar um espaço de educação ambiental para as crianças de Manaus.
Por enquanto, as ações da Universidade da Água estão mais focadas no Estado de São Paulo, mas Gilmar tem a intenção de expandir o trabalho da ONG e montar franquias em outras grandes capitais do país, como Rio de Janeiro e Brasília.
Para saber mais sobre o trabalho desenvolvido, visite o site da organização.
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