Em um cenário que defende a eficiência energética das edificações, a Petrobrás inicia a segunda obra a partir de conceitos da arquitetura bioclimática. Em destaque estão as proteções térmicas das fachadas, a criação de zonas sombreadas e sistemas de energia renovável.
O projeto desenvolvido pelo arquiteto Sidônio Porto para a sede administrativa da Petrobrás em Vitória, capital do Espírito Santo, expressa a preocupação da empresa com a adoção de conceitos construtivos que resultem em eficiência energética, respeito ao meio ambiente e sistemas que evitem o desperdício de materiais. A estatal ocupa o topo da lista de companhias brasileiras que começam a despertar para a questão da sustentabilidade e vem procurando aplicar, em suas novas unidades, essa orientação, em defesa da prática de uma arquitetura bioclimática. O projeto foi escolhido em concurso organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Iniciada em junho deste ano, a primeira fase da obra prevê a construção de duas torres (leste e oeste), interligadas por um prédio central, além do edifício de utilidades, restaurante e dois blocos destinados aos centros de Realidade Virtual (CRV) e de processamento de dados (CPD), num total de 110 mil metros quadrados construídos, que ocuparão 30% do terreno de 101 mil metros quadrados. Parte do lote foi reservada para ampliação futura, quando deverá ser erguida a torre sul, com cerca de 30 mil metros quadrados de área.
Cinturão verde
O projeto teve como ponto de partida o estudo de implantação das edificações em uma área privilegiada pela topografia e pela vegetação, na região da praia do Canto. Procurou-se preservar as árvores mais antigas e de maior diâmetro, direcionando a ocupação mais densa para setores onde não se exigirá o sacrifício de espécies vegetais mais valiosas. As árvores mantidas criarão uma espécie de cinturão verde em torno dos edifícios, colaborando com o sombreamento. As análises também levaram em conta o impacto no tráfego urbano, resultando num arruamento que evitará congestionamentos.
A implantação, o desempenho das fachadas e a criação de zonas de circulação sombreadas ganharam destaque nos estudos voltados para o uso racional da água e da energia elétrica. As torres leste e oeste são compostas, cada uma delas, por dois blocos interligados por átrios de pé-direito elevado, protegidos por cobertura de vidro com controle solar, o que garante luz e ventilação naturais. Essas edificações, destinadas a escritórios, terão quatro pavimentos de garagem, pilotis e outros seis andares. O hall contará com uma passarela e jardim na cobertura. O edifício central também ganhará pilotis e quatro pisos, enquanto a torre sul, igualmente com pilotis, terá sete pavimentos.
Terraço-jardim
Agrupados conforme suas funções, os edifícios se situarão ao longo dos eixos norte/sul e leste/oeste, envolvidos por praças com generosas áreas verdes e espelhos d’água, que vão colaborar na manutenção do microclima. Com cerca de mil metros quadrados, a praça norte terá áreas de estar e centro de eventos. A praça central, que ligará o edifício do CRV ao do CPD, deve ser o ponto de encontro e o coração de toda a concepção. Por sua característica formal e programática, o auditório também se tornará elemento dinamizador dessa praça. Por fim, parcialmente coberta, a praça sul será o elo entre o conjunto e a torre a ser construída posteriormente, pela continuidade das alamedas arborizadas que se estenderão ao longo de um espelho d’água. Também visando a sustentabilidade do empreendimento, propõe-se a implantação de terraço-jardim na cobertura do auditório e de coletores de energia solar, para aquecimento de água, no topo do volume dos refeitórios. O projeto também prevê reservatórios para parte da água pluvial recebida pelas coberturas dos edifícios. Ela poderá ser utilizada para irrigação das áreas verdes e reposição nas torres de arrefecimento.
Contratada para os estudos de conforto térmico, a Ambiental Consultoria constatou que as fachadas leste e oeste estarão mais sujeitas à incidência solar, enquanto a sul receberá menor insolação e a norte ocupará posição intermediária. O trabalho em equipe, envolvendo profissionais de várias áreas, permitiu que essas condicionantes fossem avaliadas na fase de desenvolvimento dos projetos.
Assim, ambientes que terão maior número de pessoas trabalhando ficarão próximo das faces menos ensolaradas, que ganharão os maiores vãos. Banheiros, copas, depósitos e circulações verticais estarão localizados perto das fachadas leste e oeste.
Brises e telas de proteção
As fachadas terão também proteções fixas e móveis para garantir o conforto ambiental e melhor aproveitamento da luz natural. As faces leste e oeste das duas torres ganharão brises compostos por chapas metálicas perfuradas inclinadas. Em áreas mais críticas, essas perfurações serão da ordem de 25% a 30%, para permitir a visibilidade e garantir proteção contra 70% da radiação solar.
Além dos brises, telas de proteção vão reforçar o sombreamento em períodos mais críticos. Elas possuem microfuros que arejam o ambiente e garantem ventilação constante, evitando o efeito estufa. Colocadas na parte externa do vidro, podem absorver e reter até 91% do calor contido na irradiação solar. Seu desempenho térmico reduzirá a climatização artificial no interior do edifício, otimizando o consumo energético e os custos de manutenção.
Essa proteção externa terá um mecanismo automático para recolhimento da cortina em caso de ventania, evitando que seja danificada. Segundo o arquiteto Luiz Carlos Chichierchio, diretor da Ambiental, trata-se de solução já amplamente utilizada em países da Europa e nos Estados Unidos, que chegou há poucos anos ao mercado brasileiro. A cortina mecanizada corre dentro de trilhos, com acionamento manual ou motorizado, programado no computador, o que permite orientar os movimentos de abertura e fechamento conforme as condições de sombreamento e insolação de cada uma das fachadas. O espaço existente entre a tela e os vidros permitirá a circulação de ar.
Quando a temperatura dos ambientes internos exigir o uso de ar-condicionado, este também terá seu funcionamento otimizado por sensores de presença, que desligarão o sistema quando o ambiente estiver vazio e o acionarão quando alguém entrar na sala.
Nas edificações que não possuem ar-condicionado - utilidades, oficinas, almoxarifado - o conforto térmico se dará pelo aproveitamento das brisas, predominantemente na direção sudeste. Os prédios ganharão telhas termoacústicas e sistema de ventilação cruzada: o ar frio entrará pelas aberturas baixas, empurrando o ar quente para saídas na parte mais alta. Para evitar que no mês de junho as aberturas voltadas para o norte recebam insolação direta, a cobertura terá um prolongamento, formando uma espécie de beiral.
O aproveitamento da energia solar foi estudado para algumas aplicações, como o aquecimento de água para o restaurante e vestiários. Também serão instaladas células fotovoltaicas para transformação da radiação do Sol em energia elétrica. Esse sistema, segundo o arquiteto Sidônio Porto, será amostra emblemática, em função dos altos custos das fotocélulas no mercado brasileiro.
O Centro de Realidade Virtual terá um trecho de sua cobertura formado por painéis fotovoltaicos, indicando que a Petrobrás acredita nessa tecnologia e que a redução de custos é apenas questão de tempo. A energia obtida pelas fotocélulas poderá ser armazenada em baterias (corrente contínua) ou utilizada diretamente, sendo convertida em corrente alternada.
Obra industrializada
Outro foco direcionado para a sustentabilidade é a redução de desperdícios na execução da obra. Assim, optou-se pela racionalização, com o canteiro transformado num grande centro de montagem. Os edifícios serão construídos com sistema misto aço/concreto.
“Em função da grande diversidade de tipologia das estruturas, serão empregados praticamente todos os tipos de perfis disponíveis no mercado”, explica Flávio D’Alambert, diretor do escritório Projeto Alpha, responsável pelo projeto básico das estruturas metálicas. No total, serão utilizadas cerca de 2,3 mil toneladas de aço em escadas, coberturas, marquises, passarelas e elementos especiais. As coberturas curvas vão exigir o uso de telhas de aço calandradas.
Todo o conjunto de edificações será construído com sistema misto de estruturas metálicas e em concreto, tanto pré-fabricado quanto moldado in loco. As estruturas de concreto comporão os pilares e as vigas das partes inferiores das edificações e os painéis de fachada.
A primeira etapa da obra, que está sendo executada pelo consórcio formado pelas empresas Hochtief, Camargo Corrêa e Odebrecht, deverá estar concluída no final de 2009. Entre as empresas participantes estão QMD Serviços (consultoria de fachadas), Apoio (fundações), Enit (instalações),
MW (ar-condicionado), Projeto Alpha (estruturas metálicas) e Ambiental Consultoria (conforto ambiental).
Na pauta da estatal, os edifícios verdes
O projeto para a sede administrativa da Petrobrás no Espírito Santo tem como orientação os preceitos básicos que norteiam a construção dos chamados edifícios verdes. Essa é uma das condicionantes da Petrobrás para suas novas unidades, a exemplo do megaprojeto desenvolvido pelo arquiteto Siegbert Zanettini, em co-autoria com o arquiteto José Wagner Garcia e com a participação de uma equipe de mais de 200 profissionais, para o centro de pesquisas da empresa na ilha do Fundão, no Rio de Janeiro (leia Finestra 47). A execução do conjunto de edifícios foi iniciada no ano passado.
Entre os conceitos empregados nas duas obras está a redução do consumo de energia, principalmente com sistemas de ar condicionado, a partir de soluções de proteção térmica para fachadas e coberturas. Os novos edifícios terão maior qualidade de distribuição da iluminação natural, em função de aberturas com dimensões adequadas e em locais convenientes, resultando no uso racional de lâmpadas. Além disso, os projetos incentivam a pesquisa de contribuição da energia renovável, como os aquecedores solares e o sistema fotovoltaico.
A redução do consumo de água potável também está em pauta. Prevê-se o controle de vazão de águas pluviais, a criação de paisagismo eficiente e soluções alternativas, para redução em cerca de 50% no consumo de água potável. Serão aplicadas tecnologias inovadoras para o tratamento de esgotos.
Quanto aos materiais a serem utilizados nas obras, a opção é por aqueles de baixa emissão de poluentes, recicláveis e regionais. Finalmente, os projetos alertam para o monitoramento de dióxido de carbono.
Fonte: Sky Scrapercity
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