Foram instalados dispositivos automáticos de sombreamento na maior parte da fachada sul
(crédito: Cortesia Kaplan McLaughlin Diaz)
Há doze anos a administração da cidade de São Francisco, na Califórnia, adquiriu um edifício danificado pelo terremoto Loma Prieta, em 1989, na famosa Golden Gate Avenue. A intenção era construir, no local, uma torre projetada por uma joint venture formada pelos escritórios McLaughlin Diaz (KMD) e Stevens + Associates. Mas, com o projeto de 84.500 metros quadrados em avançado estágio, veio a quebra das empresas ponto com e este foi engavetado.
Em 2006 a San Francisco Public Utilities Commission - PUC (Comissão de Serviços Públicos de São Francisco) ressuscitou o projeto para alojar cerca de mil empregados, já com a intenção de desenvolver um projeto verde, objetivando a conquista da certificação LEED Prata. No entanto, a PUC, que fornece água, tratamento de esgoto e serviços de geração de energia para a cidade e toda a área da Baía, resolveu ser mais agressiva em seus objetivos. Pediu uma revisão completa do projeto com vistas a adequá-lo à certificação LEED Platinum. Com isso, o edifício incorporou a geração local de energia renovável, sistema de recuperação de águas, além de outros benefícios. Mais uma vez o projeto quase sucumbiu devido ao forte aquecimento do mercado da construção em 2008, que elevou o orçamento em milhões de dólares acima do planejado.
Após passar por uma reavaliação orçamentária, o edifício foi orçado em US$ 133 milhões, mantendo os objetivos iniciais. A torre usará um terço menos energia da rede do que um edifício de escritórios típico, economizando US$ 118 milhões em custos de energia durante os próximos 75 anos, segundo o Department of Public Works (Departamento de Obras Públicas de São Francisco).
Para alcançar tais economias, o edifício desdobra-se para ser um rigoroso depositário de medidas coordenadas para a conservação de recursos e produção de energia. Exceto por um espaço cortado por um granito branco que parece plainar acima do telhado entre as fachadas leste e oeste, a torre é envolvida por uma parede dupla de vidro de alto desempenho. Dispositivos de sombreamento, interior e exterior, controlam a luminosidade, reduzindo os ganhos de calor. A luz natural é captada através de prateleiras de luz (shelves light) e a distribuição do ar é pelo piso. No telhado, foram instaladas células fotovoltaicas que captarão cerca de 200 kW, capazes de fornecer 7% da energia consumida pelo edifício.
O edifício também incorpora algumas tecnologias ainda consideradas exóticas. Por exemplo, a torre terá uma "living machine" , que inclui uma área artificialmente alagada com função ornamental no perímetro do vestíbulo. Reproduzindo processos naturais e apoiando-se em plantas e outros organismos benéficos, o sistema limpará as águas cinzas e negras geradas pela torre, tornando-as aptas para serem utilizadas em descargas de mictórios e privadas. A PUC também espera usar a água recuperada para a irrigação, mas São Francisco não permite tais sistemas, ainda que os departamentos de saúde da cidade e do estado estejam estudando sua regulamentação.
De seis a oito turbinas de eixo vertical serão incorporadas em uma torre na elevação norte do edifício; um arco na fachada ajudará a aumentar a velocidade do vento ao circular pelas turbinas.
(crédito: Cortesia Kaplan McLaughlin Diaz)
Outro elemento importante do 525 Golden Gate é a integração da tecnologia eólica ao edifício. De seis a oito turbinas de eixo vertical, de aproximadamente 1 kW cada uma, serão montadas em uma torre na fachada norte, tirando partido do constante vento norte-noroeste. Embora se espere que elas gerem menos de 1 por cento da energia consumida pelo edifício, a PUC poderá trocar as turbinas por outras mais eficientes tão logo a tecnologia eólica integrada aos edifícios evolua. Além disso, as turbinas terão a importante função de dar maior visibilidade às fontes renováveis.
As turbinas e o sistema de recuperação das águas de esgoto são os principais elementos. Contudo, eles não são os elementos sustentáveis mais excepcionais do edifício. A armação estrutural é praticamente à prova de terremotos, e, independente de sua intensidade, está projetada para resguardar vidas e impedir a destruição do prédio. E, mesmo sem contar pontos para a certificação LEED, seus projetistas consideram a armação estrutural um dos atributos verdes mais importantes. O sistema estrutural permite que seus elementos retornem à posição original depois de sacudidos por um terremoto.
Fotocélulas controlam a iluminação indireta, diminuindo a luminosidade quando os níveis de luz natural são suficientes. Para assegurar que a cor do teto seja compatível com a estratégia de iluminação, os projetistas definiram um fator mínimo de reflexão para o concreto nas especificações do projeto.
O PUC tem piso elevado para a implantação o cabeamento e distribuição do ar condicionado. O espaço entre a laje e o piso servirá, também, para o resfriamento da massa, atuando como uma bateria de acumulação térmica, guardando o calor gerado, durante o dia, por pessoas, equipamentos e iluminação. À noite, este calor será exaurido e substituído por ar fresco, num processo de renovação de ar que ajudará na redução da carga dos chillers. Infelizmente, por causa das limitações do software de análise e simulação, os engenheiros não foram capazes de explorar totalmente a capacidade do calor da estrutura no seu projeto, o que permitiria especificar equipamentos mecânicos menores.
A equipe de projeto tentou aproveitar ao máximo qualquer sinergia entre a armação e outros sistemas prediais, ao mesmo tempo que trabalhavam para reduzir a energia corporificada na estrutura de concreto. Para minimizar a pegada de carbono, os engenheiros substituíram aproximadamente 70 por cento do cimento Portland por uma mistura de materiais cimentícios suplementares que inclui a escória, um subproduto da fabricação de aço e cinza residual da queima de carvão em plantas de geração de energia. Substituindo um material que é intensivo em energia na sua fabricação por produtos residuais que seriam descartados em aterros, os membros da equipe cortaram à metade as emissões de carbono do concreto utilizado.
Fonte: e/a Engenharia & Arquitetura
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