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Marisa Barda detalha as novas alturas de Milão com seus arranha-céus


Cerba (Centro Europeo di Ricerca Biomedica Avanzata), de Stefano Boeri

Milão cresce em altura. O recorde mantido durante meio século pelo edifício Pirelli - 127,10 m - está destinado a ser substituído nos próximos cinco anos. No século 18, os edifícios tinham um padrão médio de dois ou três andares, no século 19, o padrão era três ou quatro e hoje em dia são seis ou sete andares, no máximo.

Nessa cidade, como em toda a Itália, os arranha-céus são episódios muito esparsos e particulares. Somente dois episódios podem ser considerados símbolos na cidade de Milão: a torre Velasca (106 m) projetada pelo escritório BBPR em 1957 e o edifício Pirelli de 1958 por Giò Ponti. E ambos foram considerados sacrilégios por terem superado a altura tacitamente inviolável da Madonna de ouro do pináculo da catedral de Milão (108,5 m). E foram motivo de debates e discussões pelas linguagens arquitetônicas adotadas.
Além dessas duas construções emblemáticas, atualmente há cerca de 20 edifícios altos, a maioria de fraca qualidade e construídos em um período de 60 anos. Mas a cidade desenvolve uma nova fase da arquitetura, entre a região central e a periferia, com grandes obras projetadas por alguns dos mais importantes arquitetos italianos e internacionais. Nove arranha-céus, que despertaram pesadas críticas por parte dos cidadãos, se sobreporão em altura ao Pirelli, todas as obras ainda a serem realizadas ou em fase de realização, mesmo em partes da cidade até agora consideradas excluídas da pressão imobiliária, o que geralmente justifica o elevado investimento. Sem nunca ter realmente deixado de existir, persiste o desejo mercadológico e financeiro, em substituição ao aspecto quase metafísico que a cidade tinha no passado.
Vista geral da maquete do Citylife
Após o 11 de setembro de 2001, muitos pensaram que os arranha-céus estivessem em vias de extinção. Mas se formou, no século passado, um sodalício comercial entre o homem e o arranha-céu. E hoje é impensável que uma cidade possa ser considerada tal sem eles. Efetivamente, o arranha-céu é o símbolo arquitetônico da modernidade, um elemento essencial da vida moderna que, pela sua forte presença, sempre foi destinado a ser uma das tipologias mais discutidas. Portanto, eles constituem um excelente ponto de partida para o debate sobre as transformações urbanas em Milão.
Com a previsão de um crescimento vertical da cidade, ocorre explorar as potencialidades e o significado dessas novas figuras arquitetônicas e sustentar esse tipo de construção em uma série de espaços públicos e de relações que possam promover sua capacidade de acolhimento e de vivência.
A história ensina que nem sempre as obras ousadas e majestosas agradam imediatamente. Desde épocas antigas elas revolucionam a engenharia e a estética. A ousadia estrutural e a peculiaridade formal sempre foram, desde tempos imemoráveis, objetivos dos arquitetos e construtores. Do colosso de Rodes, ao Coliseu e o Panteon em épocas mais antigas. A cúpula de Bruneleschi no Renascimento, ou as arquiteturas de Guarino Guarini, Borromini, Bernini. Sem voltar muito no tempo, em 1889, o engenheiro Gustave Eiffel projetou uma torre de ferro como estrutura temporária na Expo Internacional em Paris. Inicialmente muitos se escandalizaram e rejeitaram a construção porque estragava o skyline de Paris. Hoje é o monumento mais visto no mundo. Podemos também citar a Sagrada Família de Gaudí (1884-1926), em Barcelona.
Portello, conjunto de parque urbano e edifícios residenciais, comerciais e de serviço. Do Studio Valle Architetti Associati
Em 1928, o arquiteto William Van Alen constrói em Nova York o arranha-céu mais alto do mundo, o Chrysler Building. Em 1930 o edifício concorrente, o Bank Manhattan, é concluído alguns dias antes do Chrysler, resultando, para surpresa geral, mais alto do que anunciado pelo Chrysler, com 282,61 m. Mas Van Allen tinha projetado e construído secretamente uma flecha de aço, o quanto bastava para superar o rival. Em menos de duas horas foram montados os cinco pedaços do coroamento do pináculo do edifício, alcançando os 319 m de altura.
O frenesi pela verticalidade contagia até hoje todas as cidades do mundo em uma competitividade contínua. A Freedom Tower no Ground Zero em Nova York, por exemplo, terá a altura simbólica de 541 m ou 1.776 pés - número que remete ao ano da Declaração da Independência dos Estados Unidos. E o edifício mais alto do planeta, o Taipei 101 (508 m), será superado em 2009 pela Burj Dubai com seus 808 m.
Em Milão o objetivo é bem mais tímido, ficando na faixa dos 200 m de altura e o recorde será de uma das três torres do projeto Citylife com 218 m, na área da ex-feira de Milão, projeto assinado por Isozaki. Ao lado, os edifícios de Hadid e Libeskind terão respectivamente 185 m e 170 m. A nova sede da Região Lombardia terá 160 m e são previstos 212 m para a Torre Landmark em Rozzano, na periferia Sul da cidade, um projeto de urbanização de 5+1AA e Metrogramma (arquitetos Alfonso Femia e Gianluca Peluffo) com edifício de escritórios cujo enfoque são os aspectos energéticos e ambientais. Projetados por Stefano Boeri para a imobiliária Hines, os dois arranha-céus residenciais do Bosque Vertical (são 900 árvores distribuídas nos vários andares para absorver partículas e dióxido de carbono) têm 108 m e 78 m de altura. Já a Torre das Artes para apartamentos, lojas e restaurante com 94 m de altura projetada por Archea Associados está localizado na área da ex-Montedison, e também visa à economia de energia.
Bosque Vertical com 900 árvores distribuídas nos andares em dois edifícios de 108 m e 78 m de altura. De Stefano Boeri para a imobiliária Hines
Em uma cidade como Milão, que possui um tecido urbano consistente para muitas de suas áreas centrais, cerca de vinte arranha-céus distribuídos a cada meio quilômetro, e a maioria com uma estética discutível, parecem elementos anômalos e artificiais dentro da trama urbana. Aqui, arranha-céus não podem ser propostos como episódios independentes e únicos.
Na Itália o projeto do novo fica ligado a uma razão histórica, mas é necessário fazer um processo de decantação de relações entre o que se está fazendo e o seu conteúdo, e o que você faz pode ser cheio de valores ligados à mimese ou à contemporaneidade. São muitos os arquitetos italianos que só pensam na continuidade da história, nos problemas de identidade morfológica, sem considerar que a cidade mudou.
Niemeyer - que projetou a Mondadori em Milão e a Fata em Turim - diz que a Itália é um país belíssimo, um museu a céu aberto onde trabalhar é bem mais difícil que em outros lugares, pelo menos para os arquitetos que devem se confrontar com modelos muito importantes como, por exemplo, Palladio.
Nova sede da região Lombardia. De Pei Cobb Freed & Partners
No entanto, a beleza das cidades italianas é baseada exatamente na estratificação de várias épocas. E é muito difícil construir e trabalhar com os vínculos e testemunhas de outras épocas sem romper equilíbrios afirmados precedentemente. É um desafio construir entre a presença de obras e edificações de gerações de mestres de arquitetura (como Filareti, Palladio e Alberti) que influíram na produção arquitetônica do mundo todo.
O importante é não se deixar paralisar para respeitar o passado, mas agir respeitando também a nossa época com a coragem e o sentido de responsabilidade de que nós também temos de deixar traços do nosso tempo.
Após esses anos de imobilização, a cidade de Milão entendeu que, para competir com as outras capitais europeias, deve se transformar. Milão é a capital econômica italiana e uma das maiores metrópoles europeias. A área metropolitana milanesa é comparável à de Londres ou Paris: a denominada Cidade Região de Milão tem 9,3 milhões de habitantes que produzem 10% do PIB nacional, um nível igual a Bruxelas ou Madri.
Edifício de Libeskind de 170 m de altura, para o projeto Citylife
A partir dos anos de 1980, a renovação urbana passou a ser mais uma necessidade do que uma escolha. Passa pela reutilização de áreas obsoletas ou desativadas que hoje correspondem a 8 milhões de m2: tudo em volta da urbe que, tal como em Londres, é a ex-cidade dos trabalhadores mudando. Apesar disso, devido à falta de decisão política sobre as áreas obsoletas, passaram-se décadas de bloqueio - nos anos de 1990 só uma intervenção foi realizada, a da requalificação da área da Pirelli-Bicocca.
Essa descentralização industrial não está ligada somente à transferência das áreas de produção, mas à modernização de serviços e de infraestruturas. Há a perspectiva de uma melhora do equilíbrio demográfico e do preenchimento das carências de serviços em determinadas áreas da cidade, prevalecendo o conceito de construir no já construído.
Uma dinâmica que engendra a proliferação entrópica, o acúmulo de construções abandonadas, fábricas vazias e áreas de demolição convertidas em estacionamentos, centros de culto ou depósitos à espera de valorização. É o momento de conciliar a reinterpretação da multiplicidade e densidade da cidade histórica com as exigências do presente, ocupando o vazio com edifícios e espaços bem definidos.
Museu da moda, de Pierluigi Nicolin
Com uma preocupação de agregar valor econômico ao patrimônio, a escolha de um tipo de uso não compatível com o edifício, imposta por interesses puramente econômicos e sem uma atenta avaliação do impacto que pode produzir na obra e em seu entorno (seja um monumento, uma indústria obsoleta ou uma arquitetura vernacular) pode resultar em danos comparáveis àqueles determinados por um abandono.
Em uma cidade congestionada pelo tráfego, a implantação de arranha-céus deveria ser também regulada com base na disponibilidade de transportes públicos. É assim que acontece em diversas cidades europeias, como Londres, onde, mesmo não existindo uma oposição moral ao edifício alto, existe a regra que estabelece que não pode existir estacionamentos particulares nas proximidades de um novo arranha-céu, para que o acesso ao edifício seja realizado pelo transporte público.
Hoje, em Milão, há mais de 15 áreas de intervenção com obras sendo construídas ou já autorizadas, com a previsão de três museus, dois teatros, um auditório, dois centros de exposições, 37 mil m² de residência, 160 mil de áreas verdes, 258 mil escritórios e 11 mil espaços comerciais. Entre esses, destacam-se:
1) O Citylife, na área central antes ocupada pela Feira de Milão, que compreende três novas torres, o museu internacional de arte contemporânea e um parque urbano. De Arata Isozaki, Daniel Libeskind, Zaha Hadid e Pier Paolo Maggiora, com conclusão prevista para 2014.
2) O Portello, em uma área desativada da Alfa Romeo, com um grande parque urbano e edifícios residenciais, comerciais e de serviço. Do Studio Valle Architetti Associati.
3) O World Jewellery Center, que concentrará as indústrias de joias italianas, em um local prestigioso no Portello.
4) Uma nova área residencial e de serviço em Santa Giulia, no sul da cidade, com uma superfície de 120 hectares, dos quais 34 estão reservados para um parque. De Norman Foster.
5) A Biblioteca Europeia de Informação e Cultura, na área da estação da ferrovia FS de Porta Vittoria.
6) A nova sede da região da Lombardia, localizada próxima à estação ferroviária Garibaldi, em uma área que será completamente renovada. De Pei Cobb Freed & Partners, com conclusão prevista para 2009.
7) A nova cidade da moda, também localizada na área Garibaldi-Repubblica, para exaltar o papel central de Milão na moda com a criação de um museu, um centro de serviços e um campus universitário. Projeto de Cesar Pelli e Lee Polisano com Stefano Boeri, além do edifício do Museu da Moda projetado por Pieluigi Nicolini e com paisagismo de Andreas Kipar.
8) A nova sede da editora RCS-Rizzoli, na área nordeste de Milão, onde está prevista uma torre de 80 m.
9) O distrito cultural Bicocca, sede da cidadela da cultura e do cinema.
10) O pólo tecnológico da Bovisa com a nova sede do Politécnico.
11) A área residencial, comercial e parque de Cascina Merlata, próxima ao pólo da Feira de Massimiliano Fuksas em Rho-Pero.
12) A área recuperada da antiga metalúrgica Falck, em Sesto S. Giovanni, com uma intervenção de Renzo Piano para residência e serviço, além de um parque urbano.
13) A área desativada do estabelecimento Carlo Erba, na zona Maciacchini ao norte da cidade que, de zona degradada, passará a ter um parque para atividades culturais, atividades físicas e outros serviços.
14) O Cerba (Centro Europeo di Ricerca Biomedica Avanzata), um pólo de pesquisa e tratamento biomédico entre os mais avançados na Europa, localizado no sudoeste de Milão, em uma área com mais de 610 mil m2, projeto do arquiteto Stefano Boeri.
15) O museu de David Chipperfield para a ex-área da metalúrgica Ansaldo.
16) Um museu da Fundação Prada para sua coleção particular e para outras exposições, com projeto de Rem Koolhaas englobando os sete edifícios de uma antiga destilaria de 1909.
Todos os projetos citados foram realizados por concursos internacionais para atrair alguns dos nomes mais famosos da arquitetura mundial.
Nova área residencial e de serviço em Santa Giulia, com uma superfície
de 120 hectares, dos quais 34 é um parque. De Norman Foster

Fonte: Revista aU



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