O Imóvel tem dois quartos, um banheiro e uma sala conjugada à cozinha.
Televisões que não funcionam mais, garrafas de refrigerante, potes quebrados e sacolas plásticas que iriam para o lixo podem significar a solução para suprir a falta de moradias a um preço acessível. Uma casa feita quase totalmente de blocos de encaixar, assim como as casinhas de Lego, pode custar R$ 13 mil e ser uma das respostas para o avanço da habitação no país.
Trata-se de um imóvel com dois quartos, um banheiro e uma sala conjugada à cozinha, com cerca de 45 m2 (metros quadrados) de área privativa, como explica o engenheiro civil Joaquim Caracas. Ele é dono da Impacto Protensão, empresa da área de construção civil do Ceará que desenvolveu o projeto. “Ela é toda feita de material reciclado, do piso ao teto, e qualquer um pode montar. Demora de dois a três dias para ficar pronta e não requer mão de obra especializada. É como um brinquedo Lego mesmo”.
O produto ainda não está à venda porque passa por testes. O engenheiro diz que espera colocar a casa de plástico em produção industrial ainda neste ano. “Das 400 instalações que operamos, por meio de aluguel, conseguimos um preço de custo de R$ 370 o m2. Se entrar em uma escala industrial, a tendência é baratear. Esperamos neste ano obter todos os certificados para começar a procurar um parceiro para investir no projeto.
Sem alicerce
A casa não tem alicerce. Ela é montada sobre uma placa metálica instalada no terreno. Nela são afixadas as paredes, que são feitas de um tipo de polietileno (um dos compostos químicos que formam o que chamamos de plástico) preenchidas com uma espuma. Internamente, eles contam com estrutura metálica e dutos para encanamento e instalação elétrica.
O material é mais leve do que o concreto ou a madeira e tão resistente quanto os tijolos. Caracas conta que sua maior preocupação quando começou a montar a casa de plástico era a isolação térmica.
O problema foi resolvido quando as placas ganharam um espaço oco por dentro. Isso fez com que esse “vazio” funcionasse como isolante, nos moldes das geladeiras de isopor, sem esquentar demais o interior do imóvel ou causar desconforto aos ocupantes. “A ideia surgiu há uns dois anos e meio, quando eu buscava uma forma de substituir aquelas placas de compensado por plástico reciclado. Eu usava aquelas folhas de madeira para isolar a obra e pensei ‘por que não fazer uma casa com isso’?”
Ele diz que a primeira casa foi feita dentro da Universidade Federal do Ceará (UFCE) para testar os materiais e a viabilidade do projeto. Hoje, a ideia funciona em cerca de 400 instalações, de salas de aula a sedes da guarda municipal, escritórios de construção, chalés e quiosques em Fortaleza (CE) e Recife (PE).
Caracas conta que a vantagem é a praticidade e a facilidade para montar uma casa do tipo. Mas ele reconhece que há uma desvantagem: “O que acontece é que há preconceito sobre ela, por ser feita de material reciclado. Quando eu comecei a minha ideia era fazer uma casa, mas tem tanta coisa que dá para construir que isso poderia ser viável em comunidades carentes para fazer escola e posto de saúde, entre outros”.
Pioneira do setor tem casa de plástico até em Angola
A primeira casa de plástico do Brasil surgiu em 2005, a partir da parceria de uma fabricante deste material. Hoje, a MVC – braço da fabricante de ônibus Marcopolo – tem casas em cidades do Rio Grande do Sul, projetos para o Rio de Janeiro e exporta parte da produção para países como Venezuela, Paraguai, Chile e Angola.
A empresa diz que o metro quadrado construído pode custar a partir de R$ 650. Em SP, o preço do metro quadrado convencional passou dos R$ 905 em agosto, segundo as contas do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP).
Gilmar Lima, diretor-geral da MVC, diz que a tecnologia mescla, em uma “estrutura tipo sanduíche”, lâminas de plástico reforçado (um tipo de PVC, aquele do encanamento da sua casa, só que mais resistente) com fibra de vidro montadas sobre um esqueleto de aço naval.
Gilmar Lima, diretor-geral da MVC, diz que a tecnologia mescla, em uma “estrutura tipo sanduíche”, lâminas de plástico reforçado (um tipo de PVC, aquele do encanamento da sua casa, só que mais resistente) com fibra de vidro montadas sobre um esqueleto de aço naval.
Ele diz que a empresa desenvolve o material desde 2003. “É como um plástico daqueles utilizados em cascos de barcos, ou em um trem, ou em um caminhão. Com a diferença que uma casa fica parada. Nossa casa de plástico é um polímero de alta tecnologia, com alto desempenho de resistência a fogo, a pancadas, a água e durabilidade perto dos cem anos. Ele não tem origem nos plásticos recicláveis, mas pode ser reciclado”.
Ele diz que a companhia já vende kits prontos para residências de três tamanhos diferentes – 36 m2, 42 m2 ou 63 m2. Desde 2005, são mais de 1.600 imóveis construídos (70 mil m2). Outros 1.500 ainda estão em contrato para serem entregues, sendo que a maior parte teve financiamento do Minha Casa Minha Vida – programa de habitação popular do governo federal. “Nosso impedimento é que não posso fazer só uma casa. Tem que ter escala. Sempre trabalhamos com volumes mínimos de 50 a cem unidades”.
Falta de moradias
Para o Mauricio Linn Bianchi, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do Sinduscon, qualquer sistema de construção que seja capaz de unir materiais resistentes e duradouros a um preço baixo e a um tempo curto de produção deve ser desenvolvido. “Temos um déficit habitacional muito grande para atender, escassez de mão de obra e um país extremamente grande e com diferentes áreas climáticas. Entre as tecnologias duráveis e de bom desempenho que conhecemos está o plástico. A questão é que qualquer sistema que ofereça redução de mão de obra e respeitar esses assuntos é benvindo”.
Segundo ele, a casa de plástico é uma boa alternativa para atingir a meta de acabar com o déficit habitacional nos próximos 20 anos. Estimativas apontam que o Brasil precisa fazer ao menos 1,5 milhão de residências por ano para oferecer um lar para cada brasileiro.
No Reino Unido, o exemplo da casa plástica é levado adiante por uma empresa que recicla cerca de 18 toneladas do material para cada residência. A empresa Affersol produziu uma resina ultrarresistente, batizada de Thermo Poly Rock (TPR), que dura cerca de 60 anos.
Na China, a alternativa são apartamentos do tamanho de contêineres que podem ser colocados um sobre o outro. A indiana Tata, uma das maiores empresas do mundo, diz que vai oferecer um imóvel de 26 m2 com sala, cozinha e quarto tudo junto por 670 mil rúpias (cerca R$ 28,2 mil).
Fonte: Ambiência
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