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Reaplicação do Projeto Cidades sem Fome

O pessoal do projeto está trabalhando para reaplicar o projeto em uma área rural. A proposta é desenvolver um projeto semelhante ao que estão fazendo em São Paulo, no interior do estado do Rio Grande do Sul (sul do Brasil), em uma pequena comunidade agrícola, que se chama Agudo. A cidade de Agudo situa-se a cerca de 280km de Porto Alegre, direção centro do estado do Rio Grande do Sul. Essa cidade está situada numa região onde a imigração alemã e italiana tiveram grande influência na formação econômica, cultural e social das populações.
Hoje, a atividade econômica predominante da cidade de Agudo e várias cidades limítrofes está baseada na produção e no cultivo do fumo (tabaco). Décadas atrás, antes do evento do cultivo do fumo, a economia se baseava em agricultura familiar forte e diversificada, onde todas as propriedades possuiam criação de porcos, galinhas, gado, pomar, cultivavam-se feijão, arroz, trigo, batatas, enfim, produzia-se tudo para o autoconsumo dos membros da família e o excedente da produção era comercializado para gerar dinheiro. Até os anos 80 as comunidades rurais dessas cidades eram comunidades muito bem estruturadas e fortalecidas, de posses de belas residências e donas de excelentes propriedades de terras nas quais avistava grandes quantidades de matas e florestas nativas.
No início dos anos 80 houve um grande incentivo por parte das multinacionais fumageiras para transformar o modelo da agricultura familiar até então vigente em um novo modelo de produção de tabaco ou fumo. As estratégias utilizadas pelas indústrias tabageiras foram incentivar os agricultores familiares para que estes, apenas plantassem fumo em suas propriedades com a promessa de compra integral da produção pelas companhias de fumo e tabaco. Hove uma migração gigantesca do modelo antigo de produção e o cultivo do fumo/tabaco começou a ser a atividade econômica mais trabalhada na região. As indústrias fumageiras incentivavam os produtores com custeios em dinheiro para passarem o ano e para pagar suas despesas até os meses da safra, só que o custo desse dinheiro estava sempre atrelado à taxas de juros bancários, o que denotava no final da colheita, grandes descontos no faturamento dos agricultores. O que aconteceu foi que grande parte desses agricultores deixaram de produzir seus alimentos, seus animais, seus pomares e dedicaram-se exclusivamente à atividade fumageira, comprando em supermercados e no comércio local, todos os gêneros alimentícios de primeira necessidade, que outrora eles mesmos produziam em suas propriedades.
O resultado dessa mudança fez-se sentir já no início dos anos 90, quando grande parte dos agricultores acumulavam enormes somas em dívidas junto as empresas fumageiras e aos bancos. Muitos tiveram suas propriedades e terras hipotecas aos bancos que depois de inúmeras tentativas de receber os créditos, não restou outra alternativa a não ser hipotecar as terras dos agricultores para liquidar suas dívidas junto a essas instituições financeiras. Ainda hoje, a grande maioria dos agricultores que planta e cultiva o fumo encontram-se em situação lastimável, com grande acúmulo de dívidas e sem nenhuma expectativa de melhoria em suas condições de vida. Outro fator que chama muito a atenção, foi o grande desmatamento provocado pelos agricultores, que precisam de madeira para secar o fumo em grandes fornalhas.
Os impactos gerados pela produção do fumo não são somente econômicos e ambientais. Grande parte da população que trabalha ativamente com a cultura do fumo possui grande incidência de casos de câncer, provocado pela grande carga de venenos utilizados na produção dessa cultura. Um grande número de crianças estão nascendo com deformidades congênitas, devido ao contato dos pais com os venenos e insumos altamente tóxicos durante a gravidez e também, acredita-se, que as deformidades nas crianças já são problemas de alterações genéticas causados nos pais pela exposição excessiva, e de vários anos, aos venenos aplicados no cultivo do fumo. Em conversas mantidas com agricultores do local, foi solicitado explicar o modelo de produção das hortas comunitárias do projeto Cidades sem Fome em São Paulo e ficou muito evidenciado o interesse de todos no projeto nessa capital. A proposta de reaplicação do projeto nessas comunidades rurais, irá basear-se na diversificação da produção nas propriedades dos agricultores que trabalham hoje, exclusivamente com o fumo/tabaco. A idéia que o pessoal do projeto passou para eles, seria desenvolver um projeto parecido como o que estão aplicando em São Paulo, com algumas alterações.
Eles sugeriram que o iníco de tudo deveria ser uma proposta de uma associação de pelo menos 10 agricultores e que estes deveriam ser beneficiados com estufas, tanques de peixes etc, para gerar renda alternativa e aos poucos se desvincular do cultivo do fumo. Cada produtor plantaria em sua estufa uma cultura diferente, por exemplo, produtor A plantaria cenouras, produtor B plantaria beterraba, plantador C plantaria tomates e assim por diante. O projeto deveria contemplar um veículo de carga, trator e outras ferramentas para o uso em comum, e também para escoar a produção para cidades maiores. Existem em um raio de 100 km do local, 11 cidades que poderiam absorver os produtos cultivados dessas pessoas. A proposta inicial seria provocar uma mudança na mentalidade dos agricultores, mostrar que um novo modelo de produção seria viável. Depois, viriam as estratégias de reaplicação do modelo para outros agricultores interessados.
O projeto é viável, e sua implantação requer os mesmos conhecimentos técnicos que está sendo utilizamos em São Paulo. A formatação do projeto seria evidentemente diferente, uma vez que o público beneficiário são produtores com grande capacidade de intervenção, muito diferente do público que é trabalhado em São Paulo. Mas isso será um ponto favorável ao projeto, uma vez que se trabalhará na condição de que os produtores contemplados com estufas, tratores, insumos etc, poderá, por exemplo, destinar a um fundo, uma porcentagem sobre o valor de suas vendas, o que permitirá em pouco tempo reaplicar o modelo para outros agricultores sem a necessidade de novos patrocínios, isso criará uma escala de sustentabilidade ao longo do tempo.
Também, na cidade de Agudo, o projeto pretende implantar um Centro de Pesquisas, onde a proposta é montar uma estrutura para receber estagiários, universitários, pesquisadores e/ou voluntários. O projeto poderá receber formandos das universidades dos USA, Alemanha, Canadá e de outras partes do mundo que possuam interesses em projetos de agricultura, pesquisas ambientais, tecnologias para a criação de negócios alternativos para os produtores locais etc. A proposta é utilizar o conhecimento dessas pessoas para implantar e desenvolver práticas mais modernas e eficientes nos projetos que a serem desenvolvidos nos próximos anos e a cidade de Agudo pode oferecer para os visitantes grandes atrativos para a aplicação do conhecimento adquirido em projetos de desenvolvimento social sustentável para as comunidades carentes. Todo o processo seria sempre acompanhado, administrado e gerenciado pela Cidades sem Fome. Na cidade já está sendo trabalhado, em conjunto com a prefeitura local, o desenvolvimento de um modelo de geração de novas atividades para gerar renda mais continuamente e diversificada ao longo do ano. Já foi implantado o projeto modelo com duas famílias de agricultores que são produtores de fumo. Foi construído em cada propriedade, estufas agrícolas, criatório de peixes, e está sendo prestado uma ajuda no sentido de diversificar sua renda na propriedade. O Cidade sem Fome pretende mostrar-lhes que é economicamente mais rentável, diversificar as atividades da propriedade com a inclusão de várias atividades que geram renda mais continuadamente do que viver de uma atividade de monocultura como é o caso do cultivo do tabaco.
Estão em processo de captação de recursos para implantar o projeto em escala.



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