No caso de Emil Sinclair, protagonista de ‘Demian’, de Herman Hesse, ou de Florentino Ariza, o apaixonado de ‘O amor nos tempos do cólera’, as casas, ou melhor, os quartos, eram os locais ideais para a vigília, purgação, agonia e esperança. Estes espaços, pequenos e íntimos, eram violados pelo olho mágico da literatura, que transformava o particular em público sem pedir licença.
Como mostra reportagem do site do jornal espanhol El País, em ‘Las Casas de la Vida’, Daniel Cid e Teresa-M. Sala dão o troco: abrem as residências onde foram criadas algumas das melhores histórias da literatura contemporânea. A última a ser ‘’revelada’’ foi a casa amarela que Truman Capote alugou no bairro do Brooklyn (EUA), entre 1965 e 1965. A residência onde o escritor criou duas obras-primas da literatura – ”A sangue frio”, com a qual mudou o curso da literatura e do jornalismo, e ”Bonequinha de Luxo” (”Breakfast at Tiffany’s” -, foi vendida na semana passada por cerca de US$ 11,8 milhões (nove milhões de euros). Veja abaixo alguns exemplos:
Johann Wolfgang Goethe – Em uma manhã do verão de 1824, J.P. Eckermann deu um passeio com o escritor Johann Wolfgang Goethe até sua casa de madeira, localizada às margens do rio Ilm, na Alemanha. Um arremedo do que é mostrado em seu livro ”Conversas com Goethe”, que serviu para profanar, de certa forma, a intimidade do escritor. Era uma cabana na qual se podia desfrutar a paz, uma solidão profunda, em plena natureza. O piso inferior contava com apenas um cômodo habitável e, na parede, viam-se mapas e gravuras, além de um retrato de Goethe pintado por seu amigo J.H.Meyer em seu retorno da Itália. Os três quartos no andar superior eram acessados por estreitas escadas. Eles eram todos pequenos e desconfortáveis. O lugar onde Goethe escrevia foi o mesmo onde o escritor e político espanhol Jorge Semprún viveu ao sair do campo de concentração de Buchenwald, situado a 10 quilômetros de distância. Ali, voltou a ver os pássaros, os mesmos que, segundo ele, partiram de Buchenwald por conta do cheiro de carne queimada. Semprún, que morreu em junho do ano passado vítima de doença degenerativa, sofreu os dramas do século XX: a Guerra Civil Espanhola, a ocupação nazista da Europa, a prisão no campo de concentração de Buchenwald, a militância e dissidência comunista.
Emily Dickinson – Acompanhando o ensaio ‘A room of one’s ‘, de Virginia Woolf , é possível fazer um passeio pelas estância de Emily Dickinson. A poetisa americana viveu trancada na mansão que seu avô construiu perto de Boston, onde escreveu mais de 1.700 poemas e milhares de cartas. A escritora italiana Natalia Ginzburg visitou o local em 1969 e escreveu um ensaio em que descobre que a vida da autora não se diferenciou muito da de tantas mulheres solteiras que decidiram envelhecer naquela localidade. Para ela, o lar era algo sagrado, protegido pela onipresença de seu pai Edward.
Marie Curie – Eve Curie sintetiza quem foi sua mãe, a cientista Marie Curie, através de um pequeno espaço de sua casa de Paris. Através de uma biografia reconstruída, a filha apresenta o lugar onde a mãe passava a maior parte do tempo: seu laboratório privado, onde se abstraía de tudo com seu jaleco de trabalho. Uma sala iluminada, simples, estreita, quase irreconhecível como o local trabalho de alguém tão ilustre.
Salvador Dalí – Um dos desejos secretos de Salvador Dali era tomar conta da casa localizada em Port Lligat, distante 15 minutos de Cadaqués, do outro lado do cemitério. Em ”A vida secreta de Salvador Dalí”, o pintor narra a maneira como transformou a cabana em um espaço habitável, o local que mais gostava de estar no mundo. Contrataram um carpinteiro, e ele e a mulher Gala se encarregaram de elaborar os mínimos detalhes da decoração, do número de degraus da escada até as dimensões das pequenas janelas. ”Nenhum dos palácios de Luis II, da Baviera, despertou a metade das inquietações que a cabana causava ao nosso coração”, escreveria Dalí.
Le Corbusier – A última guarida de Le Corbusier em Cap-Martin foi retratada com surpresa pelo fotógrafo Brassaï, no livro ”Os artistas de minha vida”. “Imaginem minha surpresa quando entrei num apartamento bastante desordenado, cheio de móveis velhos, e uma estranha coleção de quinquilharias. Até sua enorme mesa de desenho estava uma bagunça, repleta de objetos, livros e arquivos”, manifestou o fotógrafo. A mulher do arquiteto, mesmo assim, adorava aquele espaço no coração do bairro parisiense de Saint-Germain-des-Près, donde viviam desde 1917. Anos depois, em 1933, farto das observações das pessoas que buscavam em sua intimidade a mesma pureza de suas obras, o arquiteto construiu um edifício – o Le Corbusier -, onde reservou um dúplex para viver, para tristeza da esposa.
Pablo Neruda – Em algum momento no décimo primeiro capítulo de ‘A poesia é uma arte’, Pablo Neruda descreveu como via a casa em Isla Negra como um brinquedo de criança. “A criança não é criança se não brinca, mas o homem que não brinca, perdeu para sempre a criança que vivia nele. Eu construí minha casa como um brinquedo e brinco nela de manhã à noite”. A residência na ilha mais parecia uma espécie de marina, repleta de veleiros mantidos em garrafas ou outras embarcações espalhadas pela casa e pelo jardim, além de outros objetos que remetem ao clima marítimo, para desfrute de Neruda. Na sala, além dos barcos, um relógio de sol e um balcão que mais parece a proa de um navio.
*Com informações do Jornal El País.Via: Revista ZapImóveis
Muito interessantes! Você fotos mais claras? Eu poderia postar isso com seus créditos, é claro, em nosso facebook
ResponderExcluirwww.facebook.com/lojateclemoveis
Se você tem Smart TV esse é o site www.tvdigitalnopc.com.br
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