O VOLUME CONTORCIDO E ENVIDRAÇADO ABRIGA AS INSTALAÇÕES DO CENTRO TECNOLÓGICO DE ENERGIA SUSTENTÁVEL, DEDICADO À PESQUISA DE FONTES ENERGÉTICAS ALTERNATIVAS E TÉCNICAS SUSTENTÁVEIS DE CONSTRUÇÃO. COMPOSTO POR EDIFÍCIO DE CINCO PAVIMENTOS E EMBASAMENTO SUBTERRÂNEO, ELE SOMA 1,3 MIL METROS QUADRADOS DE ÁREA CONSTRUÍDA E DEU À EQUIPE DE MARIO CUCINELLA ARCHITECTS, EM 2008, O PRÊMIO SUÍÇO MIPIM/GREEN BUILDING.
Durante uma apresentação no Brasil de projetos desenvolvidos na Europa e na Ásia pelo escritório franco-italiano, o arquiteto Luca Bertacchi se referiu ao paradigma da eficiência energética e da sustentabilidade do ambiente construído com uma espécie de afirmação interrogativa. Embora a responsabilidade ambiental se apresente como a grande oportunidade criativa para a arquitetura neste início de século, a ela corresponderia uma nova linguagem?, questionou o arquiteto.
A julgar pela exposição que Bertacchi fez sobre o Centro Tecnológico de Energia Sustentável(CSET, sigla do nome em inglês), a resposta é não. Embora se trate de edifício impactante, marcado pela geometria irregular de fachadas envidraçadas que se flexionam tridimensionalmente por meio das angulações de um quadrado disforme, os mecanismos de sustentabilidade e eficiência energética são visualmente discretos, por vezes até subterrâneos ou isolados da edificação.
A cidade chinesa de Ningbo tem 6 milhões de habitantes e é suscetível a condições climáticas extremas. Verão e inverno rigorosos fazem parte do cotidiano do CSET, implantado em área ribeirinha do grande lago que atravessa o campus chinês da Universidade de Nottingham, do Reino Unido, a que ele pertence. A figura do leque e dos biombos translúcidos, tradicionais naarquitetura oriental, serviram de inspiração aos arquitetos, que utilizaram o artifício da fachada dupla para proteger os interiores das bruscas variações de temperatura e permitir a ventilação natural em estações climáticas amenas. A pele externa, constituída por vidro laminado e impresso, minimiza a incidência solar e o ofuscamento dos interiores; a fachada interna, feita com dupla camada de concreto, atua no sentido de manter a temperatura média computada em ciclos diários.
O vazio perimetral que percorre todo o volume da edificação possibilita a ventilação natural tanto no inverno quanto no verão, sem a contrapartida negativa do resfriamento ou aquecimento em decorrência do contato com o ar externo. A saída do ar frio incidente pela base da fachada dupla é induzida através da abertura das chaminés localizadas na cobertura. No verão, direciona-se o ar dos exteriores, já aquecido por mecanismo alimentado por energia solar, do topo em direção à base da edificação. A cobertura verde do subsolo atua de modo similar, colaborando para o conforto térmico dos laboratórios e da sala de exposições nele localizada. Tanto o edifício quanto seu embasamento são atendidos, portanto, por mecanismos naturais - ou passivos, como se costuma denominá-los - de bom desempenho energético.
A energia geotérmica foi outro recurso explorado pelo projeto da equipe do estúdio de Mario Cucinella: a temperatura constante da terra, transmitida aos interiores através de tubulações subterrâneas e da laje radiante do piso do subsolo, pode resfriar ou aquecer convenientemente os ambientes.
Quanto ao aporte de fontes de energia eólica e fotovoltaica para a iluminação artificial, o trunfo do projeto, sob a perspectiva da sustentabilidade, extrapola sua linguagem de impacto. Não é a estética que importa, alertou Bertacchi, referindo-se à necessidade de pensar a profissão em um sistema amplo, no qual a arquitetura atua como mediadora.
Ficha técnica
Centro Tecnológico de Energia Sustentável
Local Ningbo, China
Início do projeto 2006
Conclusão da obra 2008
Área construída 1.200 m2
Arquitetura Mario Cucinella Architects - Mario Cucinella, Elizabeth Francis, Angelo Agostini e David Hirsch (autores); Eva Cantwell, Francesco Fulvi, Giuseppe Perrone e Luca Stramigioli (colaboradores); Richard Ceccanti (3D); Caterina Maciocco (software STRL) ; Debora Venturi (estratégias ambientais)
Estratégias ambientais Universidade de Nottingham/Reino Unido - Brian Ford, Saffa Riffat, Rosa Schiano e Mauricio Hernandez Tascon
Estrutura Luca Turrini
Gerenciamento Universidade de Nottingham/Reino Unido - Chris Jagger; Universidade de Nottingham/China - Charles Lee e Orlando Shi
Equipamentos e tecnologias energéticas Universidade de Nottingham/China - Jo Darkwa Arquiteto local Guo Xiao Hui
Construção WEG
Luminotécnica Tifs Engineers e Roberto Zecchin
Fotos Daniele Domenicali
Fonte: Arcoweb
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