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Frank Lloyd Wright e a arquitetura orgânica

"Por uma vida mais simples e mais graciosa"



Taliesin West, 12621 North Frank LLoyd Wright Blvd, Scottsdale, Arizona, USA

(crédito: © 2009 The Frank Lloyd Wright Foundation, Scottsdale, Arizona)

Ao celebrar o 75ª. aniversário do início da construção da Talisian West (1937-1959), uma das significativas obras de Frank Lloyd Wright, voltamos os olhos para este que é considerado um dos grandes arquitetos do século XX. Responsável por um legado que, além de ter revolucionado o conceito de arquitetura de seu tempo e ter promovido significativas quebras de paradigmas, influencia e inspira os mais ousados profissionais contemporâneos.
Talisian West proporcionou a Frank Lloyd Wright a oportunidade de colocar em prática alguns conceitos adquiridos já em seus anos de formação (1887-1899), quando deixou Madison e mudou-se para Chicago e logo admitido como assistente no escritório de arquitetura de Adler & Louis Sullivan. Já na década de 1890, incentivado por Louis Sullivan, assume alguns projetos onde o embrião de suas preocupações em desenvolver uma arquitetura voltada para a integração do homem com o meio já se delineia. O uso de linhas horizontais e eliminação de paredes e divisórias internas com o intuito de criar um fluxo mais generoso no espaço circulante já sinalizam um estilo que o perseguirá ao longo de seus anos produtivos. É nesse período que inicia um processo de questionamento ao estilo de casa vitoriana em voga nos Estados Unidos na época.
É também no escritório de Sullivan que Frank Lloyd Wright começa a desenhar móveis como armários, cômodas, cadeiras, poltronas, sofás, salas de jantar, com o objetivo de harmonizá-los com as volumetrias retas e otimizar os espaços de circulação cujo fluxo fora racionalizado. Nessa seara ele também não deixa de trilhar o inusitado: suprime as grossas camadas de tinta e utiliza, como acabamento, somente lixa e cera, devolvendo a linguagem natural à madeira. Sua rejeição ao estilo vitoriano chegava também aos elementos decorativos. Flores, capins e gravetos cortados das estradas próximas às casas serviam aos seus propósitos. Com esse ferramental de conceitos, reforma sua própria residência em Oak Park, em 1989, atraindo a atenção de inúmeros clientes que tão logo apressam-se em encomendar projetos que contemplem esses princípios.
Estas casas foram chamadas de Prairie Style depois que o Ladies Home Journal publicou, em 1901, uma matéria intitulada "A Home in a Prairie Town", enfatizando que as linhas do projeto se misturavam com a paisagem plana da pradaria.
É nesse período, também chamado de Prairie Period, que Frank Lloyd Wright elabora suas críticas às casas vitorianas que, para ele, não passavam de cômodos encaixotados e confinados uns dentro dos outros. Assim intensificam seus projetos com planos horizontais, com pé direito baixo e amplos espaços interiores com funções integradas. Divisórias em painéis de vidro e, o mobiliário especialmente concebido evolui para lionhas cada vez mais limpas e retas, ganhando funcionalidade.
Já em 1936, quando os Estados Unidos amargava a grande depressão econômica, Frank Lloyd Wright desenvolveu uma série de casas batizadas por ele de Usonian - abreviação para United State of North America. Com o objetivo de controlar custos, estas casas não possuiam porões, nem sótãos e eram totalmente livres de ornamentos . Frank Lloyd Wright queria implantar um estilo americano, com espírito democrático e que fosse acessível para as "pessoas comuns". 
Ambos os estilos – Prairie e Usonian – , têm como principais características o pé direito baixo, as áreas de estar abertas eo uso abundante de madeira, tijolo e materiais naturais. As casas Usonian, contudo, eram menores, com um único plano acentado em estrutura de lajes de concreto, as cozinhas foram incorporadas às áreas sociais e utilizavam o recurso de piso radiante. 
A primeira casa a ser construída com o conceito Usonian, inaugurando assim o chamado Usonian Period (1937-1947), foi a residência do casal Herbert e Katherine Jacobs.



Frank Lloyd Wright observa testes na tubulação de aquecimento durante construção da Jacob I, Wisconsin, 1937 (Foto de Katherine Jacobs)

Obra exemplar desse período, chamada também de Jacob I, a casa térrea ganhou um telhado plano e sua face interna abre-se, através de uma parede de portas envidraçadas, para um jardim. Da rua, vê-se uma sólida parede. O desenho em forma de L lembra duas asas: uma para a sala de estar e de jantar, outro para quartos e escritório ea cozinha e um banheiro na dobradiça da L. Para diminuir os custos, Frank Lloyd Wright eliminou a garagem e substituiu por uma inovação: um abrigo coberto, mas aberto, que ele chamou de “carport”.


Saiba mais sobre a Jacobs I.

Alguns anos depois, na década de 1940, um grupo de cientistas da indústria farmacêutica Upjohn Company propõe a Frank Lloyd Wright o projeto de várias casas de baixo custo para a formação de uma comunidade cooperativa. A condição é que deveria ser um sistema auto construtivo. A Curtis Residence Meyer (1948) é uma das quatro casas projetadas por Frank Lloyd Wright, oportunidade dada ao arquiteto para por em prática os conceitos de residência Usonian. O propósito era proporcionar aos americanos "uma vida mais simples e mais graciosa".





Em muitos aspectos a Curtis Residence Meyer e a Jacobs II, em Wisconsin, se assemelham. Ambos projetos partem de um semicírculo que forma um arco de vidro voltado para o jardim. Do ponto de vista da rua, vê-se uma sólida parede de tijolos. No centro da casa, uma torre de dois andares abriga uma escada que liga o piso da garagem e quartos à área social.

Usonian Automatic Homes

Frank Lloyd Wright nunca abandonou o conceito Usonian, criado por ele, e na década de 1950, quando já contava mais de 80 anos, cunhou a expressão Usonian Automatic para descrever uma casa de estilo Usonian feita de blocos de concreto de baixo custo. Os blocos de três polegadas de espessura modulares podem ser montados em uma variedade de maneiras e fixado com barras de aço e argamassa. Com esse processo construtivo Frank Lloyd Wright esperava que os usuários montassem suas próprias casas e com isso os custos da construção seriam reduzidos.
O sistema consistia na montagem de blocos de concreto padronizados em 12 x 24 polegadas, sem argamassa, com vergalhões. Encaixava-se horizontalmente e verticalmente em junções semicirculares e depois de acentada uma ou duas filas de blocos a argamassa de cimento era derramada nas articulações para ligar o conjunto da estrutura. Na prática, a montagem das peças modulares provou ser complicada e levou, a maioria dos compradores, a contratar empreiteiros para levantarem suas casas. Muitos projetos foram feitos, porém somente 7 casas com o conceito Usonian Automatic foram construídas. 
Dessa forma foi por água abaixo as aspirações de Frank Lloyd Wright em conseguir simplicidade e economia com esse sistema construtivo. 


Típica do estilo Usonian, a casa Kalil (fofo acima) tira partido estético das formas simples e lineares ao invés de detalhes ornamentais. As linhas simétricas nas aberturas das janelas retangulares emprestam leveza ao concreto.
A casa de Kalil foi construida em meados dos anos 1950, já no final da vida de Frank Lloyd Wright. A casa é de propriedade privada e não está aberta a visitação. 




Dorothy Turkel Residence, localizada em Detroit, Michigan, foi concebida por Frank Lloyd Wright em 1955 é uma Usonian Automatic com dois pavimentos. A casa permaneceu por anos abandonada, foi adquirida e restaurada e hoje é aberta à visitação.

Frank Lloyd Wright construiu mais de uma centena de casas Usonian. Algumas das mais famosas são: 

First Herbert Jacobs House, Madison, WI, 1936
Curtis Meyer House, Galesburn, MI, 1948
Zimmerman House, Manchester, NH, 1950
Hagan House (Kentuck Knob), Chalk Hill, PA, 1954
Toufic L. Kalil House, Manchester, NH, 1955
Á esq. casa em estilo vitoriano (© Benkrut/Dreamstime.com).
À dir. Arthur Heurtley House, Oak Park (Il) de Frank Lloyd Wright), 1902 (©Chicco7/Dreamstime.com)

A arquitetura orgânica de Frank Lloyd Wright 

“Eu trago para vocês uma nova Declaração de Independência [...] Uma arquitetura orgânica significa nada mais e nada menos que uma sociedade orgânica. Os ideais orgânicos na arquitetura recusam as regras impostas por um estetismo exterior e pelo mero gosto, como as pessoas a quem esta arquitetura pertence repudiará as imposições que estão em desacordo com a natureza e o caráter do homem [...] Demasiadas vezes ao longo da história a beleza foi contrária ao bom senso. Eu acredito que chegou a hora em que a beleza deve ter um sentido... Nesta época moderna, a arte, a ciência e a religião se encontrarão, se tornarão a mesma coisa, e tal unidade será alcançada por meio de um processo cujo centro será a arquitetura orgânica. “ - Frank Lloyd Wright em conferência no Royal Institute of British Architects de Londres, em maio de 1939 ( An Organic Architecture, London, 1939).
Considerado o maior arquiteto americano do século 20, Frank Lloyd Wright é tido por alguns de seus sucessores como o inventor daarquitetura orgânica. Seus projetos enfatizavam, sobretudo o uso de materiais naturais, a integração harmoniosa da construção com a paisagem, considerando clima, economia de espaço, economia de energia e funcionalidade como otimização do tempo através de utilização de materiais pré-fabricados abusando de tecnologia, planejamento da construção, sem deixar de lado a questão do transporte (logística) e o urbanismo. Muitos conceitos desenvolvidos por Wright são vitais hoje para o amadurecimento da arquitetura .
No entanto, o que chamava de arquitetura orgânica é a estrutura entendida como conjunto de atividades humanas que nela se desenvolvem. Orgânica porque almeja a felicidade material, psicológica e espiritual do homem, no ambiente isolado, na casa, na cidade. Devemos entender, portanto, o adjetivo orgânico em Frank Lloyd Wright como um atributo que tem por base uma ideia social. Ele refere-se, sobretudo a uma arquitetura que deve ser não apenas humanista, mas humana.
Entre 1934-37, Frank Lloyd Wright constrói a Edgar J. Kaufmann House (Fallingwater) onde ele explicita sua teoria orgânica como em nenhuma outra obra. Concretiza, assim, o auge do desenvolvimento lógico de uma extensa e complexa obra que a antecede.




 

Na mesma conferência, proferida em 1939, para que não pairesse dúvidas acerca de sua Declaração de Independência, Wright afirma:
“Falando sério e para voltar à natureza da idéia que eu defendo e à Declaração de Independência podemos perguntar: independência de que coisa? Deixem que eu repita: independência de toda imposição externa, vindo de qualquer lugar; independência de todo classicismo - antigo ou novo -; independência de todo padrão comercial ou acadêmico que crucifixe a vida.”

Veja o vídeo de animação 3D realizado por Cristobal Vila.

Exposição Frank Lloyd Wright: Organic Architecture for the 21st Century

Frank Lloyd Wright no Brasil

Apesar da inegável influência de Frank Lloyd Wright sobre o trabalho de alguns arquitetos brasileiros no início do séc. XX, não sáo achados muitos registros de sua visita ao Brasil no início da década de 1930, ao investigador da hist[oria da arquitetura brasileira.
Convidado a participar do júri, como representante das Américas, de um concurso internacional de arquitetura organizada pela Union of American Republics com o objetivo de construir um Monumento ao Descobrimento da América, Wright vem para o Brasil a 21 de setembro de 1931, com sua esposa Olgivana, e permanece no Rio quase por um mês.
Um dos aspectos que contribuiu para que não houvesse mais que escassos registros da visita do mestre americano pode-se ser creditado à formação eminentemente européia que nossos artistas e intelectuais usufruíam à época. O público mais jovem que o aguardava, estudantes das faculdades de arquitetura, tinham como modelo a École de Beaux Arts. Por outro lado, Wright lançava um olhar crítico a alguns aspectos sublinhados pela Semana de Arte Moderna de 22 e o posterior Movimento Modernista brasileiro que exaltavam a estética da máquina, importada da Europa, a qual ele já condenava nas chamadas Kahn Lectures on Modern Architecturena Princeton University em 1930.
Nos anos 30 consolida-se a liderança da figura de Lúcio Costa entre os Modernistas, e sua veneração extrema por Le Corbusier generaliza-se entre os colegas. A obra e o discurso de Wright, muito menos acessíveis (e talvez mais complexos) que os de Corbusier naquele momento, caem em certo ostracismo entre os arquitetos da terra.
No entanto a obra de Wright encontra eco no Brasil através de João Batista Vilanova Artigas (1915-1984) que em 1942 realiza em São Paulo pequenas residências nas quais é evidente a influência do mestre americano. Essa influëncia é acentuada após visita aos EUA onde Artigas tem contato direto com o trabalho de FLW, retorna ao Brasil e projeta, ao longo dos anos 1950, edifícios onde vemos a interpretação dos princípios orgânicos preconizados por Wright.

Frank Lloyd Wright ladeado por Gregori Warchavchik e Lúcio Costa, em sua visita ao Brasil em 1931, na Casa Nordshild, RJ.
Fonte: Portal EA

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